domingo, 4 de novembro de 2007

Poesia e música

Durante nossa gravidez, parto e agora com Joana por aqui ouvimos muitas coisas inpiradoras, divertidas, profundas... algumas de tão verdadeiras tomamos como nossas e repetimos sempre (como quando Ale disse que filho é que nem videogame, a fase seguinte é sempre mais difícil).

Mas muita coisa passa sem registros.

Bom, o blog, entre outras coisas, tem a intenção registrar tudo e de dividir com vocês essas grandes emoções que temos tido.

Então eu gostaria de deixar por aqui primeiro um texto do poeta Afonso Romano de Sant'anna (do qual me tornei fã) que fala do imenso amor de pai e da impossibilidade de esgotá-lo apenas na curta infância de nossos pequenos.
ANTES QUE ELAS CRESÇAM

Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos. É que as crianças crescem. Independentes de nós, como árvores tagarelas e pássaros estabanados, elas crescem sem pedir licença. Crescem como a inflação, independente do governo e da vontade popular. Entre os estupros dos preços, os disparos dos discursos e o assalto das estações, elas crescem com uma estridência alegre e, às vezes, com alardeada arrogância.
Mas não crescem todos os dias, de igual maneira; crescem, de repente. Um dia se assentam perto de você no terraço e dizem uma frase de tal maturidade, que você sente que não pede mais trocar as fraldas daquela criatura.
Onde é que andou crescendo aquela danadinha, que você não percebia? Cadê aquele cheirinho de leite sobre a pele? Cadê a pazinha de brincar na areia, as festinhas de aniversário com palhaços, amiguinhos e o primeiro uniforme do maternal ou escola experimental?
Ela está crescendo num ritual de obediência orgânica e desobediência civil. E você agora está ali na porta da discoteca esperando que ela não apenas cresça, mas apareça. Ali estão muitos pais, ao volante, esperando que saiam esfuziantes sobre patins, cabelos soltos sobre as ancas. Essas são as nossas filhas, em pleno cio, lindas potrancas. Entre hambúrgueres e refrigerantes nas esquinas, lá estão elas, com o uniforme de sua geração: incômodas mochilas da moda nos ombros ou, então, com a suéter amarrada na cintura. Está quente, a gente diz que vão estragar a suéter, mas não tem jeito, é o emblema da geração.

Pois ali estamos, depois do primeiro ou segundo casamento, com essa barba de jovem executivo ou intelectual em ascensão, as mães, às vezes, já com a primeira plástica e o casamento recomposto. Essas são as filhas que conseguimos gerar apesar dos golpes dos ventos, das colheitas das notícias e das ditaduras das horas. E elas crescem, meio amestradas, vendo como redigimos nossas teses e nos doutoramos nos nossos erros.

Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos.

. Longe já vai o momento em que o primeiro mênstruo foi recebido como um impacto de rosas vermelhas. Não mais as colheremos nas portas das discotecas e festas, quando surgiam entre gírias e canções. Passou o tempo do balé, da cultura francesa e inglesa. Saíram do banco de trás e passaram para o volante das próprias vidas. Só nos resta dizer "bonne route, bonne route" como naquela canção francesa narrando a emoção do pai quando a filha lhe oferece o primeiro jantar no apartamento dela.

Deveríamos ter ido mais vezes à cama delas ao anoitecer para ouvir sua alma respirando conversas e confidências entre os lençóis. da infância e os adolescentes cobertores naquele quarto cheio de colagens, posters e agendas coloridas de pilot. Não, não as levamos suficientes vezes ao maldito drive-in ao Tablado para ver Pluft, não lhes demos suficienfes hambúrgueres e cocas, não lhes compramos todos os sorvetes e roupas merecidas.

Elas cresceram sem que esgotássemos nelas todo nosso afeto.

No princípio subiam a serra ou iam à casa de praia entre embrulhos, comidas, engarrafamentos, natais, páscoas, piscinas e amiguinhas. Sim, havia as brigas dentro do carro, disputa pela janela, pedidos de sorvetes e sanduíches, cantarias infantis. Depois chegou a idade em que subir para a casa de campo com os pais começou a ser um esforço, um sofrimento, pois era impossível largar a turma aqui na praia e os primeiros namorados. Esse exílio dos pais, esse divórcio dos filhos, vai durar sete anos bíblicos. Agora é hora dos pais nas montanhas terem a solidão que queriam, mas, de repente, exalarem contagiosa saudade daquelas pestes.
O jeito é esperar. Qualquer hora podem nos dar netos. O neto é a hora do carinho ocioso e estocado, não exercido nos próprios filhos, e que não pode morrer conosco. Por isto os avós são tão desmesurados e distribuem tão incontrolável afeição. Os netos são a última oportunidade de reeditar o nosso afeto.

Por isto é necessário fazer alguma coisa a mais, antes que elas cresçam.


AFONSO ROMANO DE SANT’ANNA
(O homem que conheceu o amor, 1988)



Em seguida, uma música presenteada em forma de cartão virtual pelo tio Sergião de Los Angeles. Uma melodia tão familiar quanto bela e de uma letra tão simples e talvez por isso completa.
My Girl
Smokey Robinson

Bryan:
I’ve got sunshine on a cloudy day
When it’s cold outside
I’ve got the month of May
Bryan (All):
I guess you’d say
What can make me feel this way

My girl (my girl, my girl ooh)
Talkin’ bout my girl
(My girl)

Shane:
I’ve got so much honey
The bees envy me
I’ve got a sweeter song
Than the birds in the trees
Shane (All):
Well, I guess you say
What can make me feel this way

My girl (my girl, my girl ooh)
Talkin’ bout my girl
My girl

Ooh
Hey hey hey
Hey hey hey
Ooh yeah

Mark:
I don’t need no money
Fortune or fame
I’ve got all the riches baby
One man can claim
Mark (All):
Well, I guess you say
What can make me feel this way

My girl (my girl, my girl, ooh)
Talkin’ bout my girl
My Girl
Talkin’ bout my girl

I’ve got sunshine on a cloudy day
With my girl,
I even got the month of May
My girl


(Tradução)
Minha Garota

Eu tenho a luz do sol num dia nublado
Quando está frio lá fora
Eu estou no mês de Maio (verão nos EUA)
Eu suponho que você diz:
O que pode me fazer sentir deste jeito?
Minha garota (minha garota)
Falando sobre minha garota.

Eu tenho tanto mel que as abelhas me invejam
Eu tenho uma canção mais doce
Do que os pássaros nas árvores

Refrão:
Bom, eu suponho que você pensa
O que pode me fazer sentir deste jeito?
Minha garota (minha garota)
Falando sobre minha garota

Eu não preciso de nenhum dinheiro, fortuna ou fama
Eu tenho todas as riquezas, baby,
Que um homem possa desejar

Refrão

Falando sobre minha garota (minha garota)
Eu tenho sol num dia nublado,
Com minha garota

Falando sobre minha garota, falando sobre, ...
Minha garota...

É tudo de que consigo falar:
Minha garota...
(falar sobre minha garota...)

O Pai (curtindo adoidado!)

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